VOU FALAR COM VIOLETAS

 

Chega!

Vou cuidar do jardim onde as flores já murcharam.

Deixei de cuidar delas, julgando cuidar de ti.

Não tenho mais palavras!
Gastei-as a sonhar-te e com elas te perdi.

Qualquer que seja a caminhada,
és, quando a meu lado, presença impaciente,

vulto de olhar distante, mudo e sereno.

Amo a vida porque nos uniu.

Perdoa,

Já percebi que até isso te magoa.

Pudera eu conseguir
fechar-me em silêncio ou distância.
Poupar-te à minha voz!

Ter na existência, a elegância

do discreto aroma a pó de arroz.


O tempo moeu na sua mó,
todas as palavras  que de mim ouvias.
Vivemos, por ora, mudos e afastados.

Agora, se tens a vida que querias,

a minha, vai ter que saber-me a pão-de-ló.

Terá de bastar-me uma casinha

com lugar para andorinhas. 

Vou falar com violetas,

dar espaço às borboletas,

e brincar de bem-me-quer.

De manhã ou à noitinha

hei-de sonhar amores tão lindos!

-Queres saber?- Não adivinhas?

Vou amar-te mais ainda!

20/2/2013

 

 

Inspirada em:

Miguel Torga

 e Mário Feijó