O passeio dos príncipezinhos
A Bessi e a Penélope regressaram à sua casa de Lisboa e com elas foi o Nié, o pequenino neto da avó Ni. Embora às vezes se esquecesse, esta avó, tinha sido sempre uma sortuda.
É mesmo verdade! Desde menina, a avó Ni tinha sido muito abençoada. Era uma verdadeira princesa.
Teve uma infância feliz, uma família carinhosa e dedicada. Casou com um príncipe muito bonito e inteligente que a amava e aceitava tal como era.
Ambos viveram num palácio muito pequenino e era nesse palácio que viviam com os seus lindos filhos, uma menina e um menino, a mãe e o tio do Nié.
Os dias eram sempre cor-de-rosa nesse lar onde se trabalhava muito mas onde todos eram felizes.
Tamanha felicidade dava que pensar à vizinhança.
- Que sorte! Os miúdos além de lindos são tão desenvolvidos e inteligentes para a idade, diziam uns.
- O príncipe pai faz-lhes todas as vontades. Como não haveriam de ser felizes! afirmavam outros, quando observavam o príncipe a passear no parque com as crianças, enquanto estas corriam à volta do lago dos patos, para os ver disputar as migalhas de pão que lhes atiravam.
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Debaixo do chorão verdinho tombado sobre o lago, o simpático velhinho, o gnomo que cuida do caldeirão de ouro e que orienta todos quando o assunto é dinheiro, ouvia o duende brincalhão, que exclamava:
- Vejam bem é a família que eu protejo! Divirto-me tanto nestes passeios!
- Que fazes tu aqui, grande diabrete? ralhou o gnomo.
Ele bem sabia que os duendes são traquinas, adoram montar cavalos enquanto enrolam as suas crinas, fazendo com que esvoacem ao vento. Mesmo em casa, não se está seguro com eles pois gostam de mexer nas panelas das cozinheiras. Comem e fazem brincadeiras tais como esconder objectos. Contudo, os duendes são muito trabalhadores e são vistos à noite adiantando os trabalhos da família que protegem.
- Estou de férias, de férias, respondeu o duende. - Quando a família passeia eu tiro férias. Eh! Eh!
- Deixa-o brincar, disse carinhosamente Fifi, a fada que tinha acabado de chegar na sua carruagem, uma casca de avelã , em que os raios das rodas eram feitas com patas de grilo, o toldo com asas de cigarra, as rédeas tinham sido tecidas com teias de aranha, os arreios feitos de luar e o cocheiro era um mosquito pequenino cinzento. Bastava que o mosquito tocasse com o chicote numa pessoa, para ela sonhar com aquilo que viria a ser.
- Olá rainha, saudou o duende. -Vai haver reunião?
Viu-se uma luzinha branca brilhante. Era Li, a esposa do rei das fadas. Como sempre muito bela, tinha o cabelo dourado. Surgiu vestida com um traje verde prateado que brilhava como se fosse bordado a diamantes, porém eram só gotas de orvalho que lançavam lampejos.
- Claro, vai haver reunião, disse Li sorridente com o espanto do pequenino duende de orelhas grandes e pontudas. -E vamos começar já, acrescentou.
- Tu, és o duende que vive no lar daqueles meninos que escolheste com muito cuidado. O teu trabalho consiste em despertar neles um grande interesse pela aprendizagem. Gostas de ficar invisível, sentado entre montes de livros. Que eu saiba, livros nunca te faltarão nesse palácio. Tens cumprido a tua missão?
-Pois claro! Repara como as palavras brotam com facilidade dos lábios do menino, mas ele presta atenção ao que diz e ao que ouve. O seu pensamento é claro e consciente. Ele tem cuidado com o que diz. Sabe que as palavras podem gerar alegria e amor, mas podem produzir medo e sofrimento. A menina, é um doce, já começou a falar!
- Muito bem, afirmou o simpático gnomo. - Eu, que já tenho quase 600 anos, adoro rochas e cristais a ponto de, por vezes, ir morar para dentro deles. O Kiko sabe já muito sobre assunto e interessa-se pelo ambiente. Pretendo despertar a curiosidade de ambos por tudo o que possa promover a cura de doenças e o bem-estar dos seus semelhantes.
- Pois eu, disse a pequenina fada Fifi sorrindo, tenho acompanhado a mais pequenina. Como sabem sou invisível para todos, podendo ser vista apenas pela pessoa que acompanho e com a qual permaneço por toda a vida. Sou a sua fada madrinha e ajudo-a nas diferentes tarefas que deve realizar. Já está a começar a andar sem apoio. Não dá trabalho nenhum. É uma menina esperta e linda.
Como todos sabem Fifi, a linda fada pequenina, é a governante das fadas que fazem nascer os sonhos. Ela é também a parteira que com sua magia assiste ao nascimento de todos os seres.
-Com o meu poder fadei estes meninos para favorecer a realização de seus sonhos, disse Fifi com ternura.
- Parece impossível, não esperaram por mim? disse espavorida Ruchella, uma fada muito gordinha e gulosa que chegou atrasada à reunião. Circulou em torno dos presentes, olhando receosa. Mas logo a seguir perguntou:
- Onde é a cozinha? Sabia-me bem agora algo doce! Eu mereço! Sabem que eu protejo as mulheres grávidas que habitam as casas que guardo. Cobri a mãe destes bebés com o meu manto, não deixei que nada alterasse o bom desenvolvimento deles até ao parto. Todas as noites bebi uma tacinha de leite adoçado com mel ou chocolate. Que delícia! mas fiz um bom trabalho, não é verdade?
- Fizeste pois, mas és gulosa como sempre, disse Li. Todos riram.
- Bom trabalho sem dúvida, disse a bela Fifi. Eu fadei esta menina para ser muito simpática, gentil e bondosa. Uma mãezona com quem se pode contar nas horas mais difíceis da vida.
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- Que estás a espreitar, filho? Perguntou o belo príncipe curioso.
- Olha papá, tantos brinquedos pequeninos a falar em cima da casa das formigas! Disse o pequeno Kiko espantado.
- A casa das formigas é um formigueiro, não é brinquedo! É melhor não mexer em nada. Elas estão a trabalhar e não vamos incomodar, pois não?
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-Ups! exclamou o duende enterrando melhor na cabeça o seu barrete pontudo. -Ele viu-nos!
-Somos invisíveis sim, mas não para corações pequeninos e olhos observadores. -Claro que viu, disse rindo a pequenina Fifi.
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O príncipe pegou carinhosamente na pequenita. Colocou-a às cavalitas e com o irmão pela mão regressou ao seu palácio dizendo:
- Vamos, a mamã está à espera com o almocinho pronto…
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- Xui! Caluda! Acabou-se a história.... O soninho já chegou ao Nié . Dorme, dorme meu menino. 27/12/2012