A visita do anjo de Natal

    25/12/2012

 

- É Natal! É Natal! Chegou o meu menino Jesus, o meu Daniel! disse a avó Ni mal ouviu o motor do carro a entrar o portão.

A casa estava já cheia de primos, tios, avó e bisavó.

Uma segunda mesa foi colocada na sala para todos confraternizarem neste dia que celebra o nascimento do Menino e os quatro meses do Danielzinho.

A mesa estava repleta de doces tradicionais desta época e na chaminé os presentes de todos os tamanhos aguardavam a abertura.

A Bessi tinha a companhia da Rita a cadelinha branquinha do tio Zé. Eram grandes amigas e embora fossem muito bem-educadas corriam atrás uma da outra na brincadeira.

Todos disputavam o bebé, pois queriam pegar-lhe ao colo. Este lá satisfazia uns e outros mantendo-se sorridente e foi a grande estrela do dia, alvo da gula da câmara de todos os telemóveis.

 A avó Ni andava por ali a ver se aproveitava um bocadinho da alegria de apertar o seu bebé nos braços. Como andava concentrada nele só fazia asneiras. Pelo menos era o que a Bessi achava quando disse:

- Repara bem Rita, esqueceu-se de comprar legumes para a salada! Saiu à pressa para ver se remedeia a falta mas desta vez duvido que consiga.

- A avó Ni é assim esquecida? Perguntou a Rita.

- É, mas quando fica ansiosa piora tudo. Vês, não conseguiu comprar, disse a Bessi. Ontem ia-se esquecendo de ir buscar o arroz de pato, acrescentou.

- Olha, se fossemos nós até ficávamos contentes de esquecer a salada, disse a Rita com um sorriso maroto.

O grilo que no arbusto do jardim ouvia escondidinho a conversa das duas amigas resmungou baixinho:

- Ficavam contentes de se esquecerem da salada? Se fosse de alface era mesmo imperdoável! Ouve-se cada uma!

A Bessi que estava sempre atenta correu a chamar a Rita:

- Rita anda ver, só faz tolices a nossa amiga. Desta vez deitou ovos moles sobre a mousse de chocolate. Costuma pô-los sobre as natas do céu! Está mesmo velhota! Vá lá, deu pelo erro e está a corrigi-lo.

Alheia a toda esta tagarelice a avó continuava a tentar acertar com o que devia fazer mas, na verdade, o seu pensamento estava ocupado com o seu querido bebé.

Hoje quase não lhe doíam as dores que a vida lhe trouxera. Este menino era mesmo uma bênção sem tamanho.

Entretanto a mamã do bebé preocupada em satisfazer todos dizia:

- Mamã, não pode ser, o colo não é só para ti. Todos querem dar colo ao bebé! E levou-o.

Foi então que lá do alto Deus ordenou a um anjo: - Fala!    

E então, ouviu-se a voz clara e serena do nosso Cácá Nuno:

- Eu prescindo dos meus minutos de colo a favor da avó Ni!

Dito e feito, o bebé regressou ao regaço da avó, e sorriu. Sorriu também quando a avó lhe disse ao ouvido:

- Vês querido, há sempre anjos mesmo ao pé de nós! Eles sabem que tenho que te pegar ao colo enquanto tenho um pedacinho de força nos braços.                                             

Tarde, muito tarde, a avó recebeu um postal que lhe deu a certeza de ter realmente recebido a visita de um anjo neste abençoado dia de Natal.

E, nessa noite, dormiu mais serenamente por saber que Deus tinha posto uma gota de amor no coração doce do Nuninho. Foi por ele que rezou, agradecida, antes de adormecer.